A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras para o território norte-americano, a partir de 1º de agosto, continua repercutindo e elevando o clima de tensão diplomática entre os dois países. O anúncio foi feito na quarta-feira (9) e, segundo Trump, a medida é uma resposta direta ao tratamento dado pelo Brasil ao ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
Em uma carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Trump classificou o julgamento de Bolsonaro como uma “vergonha internacional” e acusou o Brasil de desrespeitar a liberdade de expressão de cidadãos americanos, além de manter práticas comerciais consideradas “injustas” pelos EUA. Trump chegou a ameaçar novas sanções caso o Brasil adote medidas de retaliação.
Resposta brasileira
Por meio de suas redes sociais, Lula declarou que o Brasil responderá à medida com base na Lei de Reciprocidade Econômica, sancionada em abril deste ano. A legislação permite ao governo suspender concessões comerciais e impor restrições a importações de países que tomarem medidas unilaterais contra o Brasil.
“A soberania, o respeito e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro são os valores que orientam a nossa relação com o mundo”, afirmou Lula. O presidente também rebateu a alegação de desequilíbrio comercial, destacando que os Estados Unidos registraram superávit de US$ 410 bilhões no comércio com o Brasil nos últimos 15 anos.
Defesa das instituições
Além das questões comerciais, Trump mencionou ações do STF contra perfis bolsonaristas com residência nos EUA como parte da justificativa para as novas tarifas. Lula respondeu ressaltando a independência do Judiciário brasileiro e reforçou que tais processos são de competência exclusiva da Justiça nacional.
Trump anunciou ainda a abertura de uma investigação contra o Brasil por supostos ataques a atividades digitais de empresas norte-americanas. Lula, por sua vez, reforçou que todas as empresas, sejam brasileiras ou estrangeiras, precisam respeitar a legislação do país, especialmente em relação a temas como discurso de ódio e disseminação de fake news.
Reunião no Planalto
Antes de se pronunciar, o presidente reuniu-se no Palácio do Planalto com ministros estratégicos, entre eles Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Rui Costa (Casa Civil) e Geraldo Alckmin (vice-presidente), para discutir as medidas de resposta à decisão norte-americana. O encontro se estendeu até as 20h.
A situação marca um dos momentos mais tensos das relações comerciais e diplomáticas recentes entre Brasil e Estados Unidos, com potencial impacto significativo para setores exportadores e para o cenário econômico internacional.